“'Se podes?’, disse Jesus. ‘Tudo é possível àquele que crê’.
Imediatamente o pai do menino exclamou: ‘Creio, ajuda-me a vencer a minha
incredulidade!’” Marcos 9.23-24
Como relacionamos nossa experiência de vida com a
fé? Como integramos o que vivemos com o que cremos? Até onde os dois andam
juntos? A verdade é que temos muitas dificuldades de criar vínculos entre o que
cremos e o que vivemos. Como falar da vitória espiritual num contexto de
perdas, doenças, enfermidades, dificuldades, problemas familiares? Como é
possível falar sobre fé quando se está cheio de dúvidas? Onde há instabilidade
no emprego gerando grande ansiedade? Quando não conseguimos parar de correr
atrás das contas? Quando não conseguimos dormir por causas dos nossos medos?
Quando o silêncio de Deus começa a incomodar? Quando sentimos que Deus não está
ali?
Todos esses segredos são guardados no cofre das
perguntas não respondidas e das situações não resolvidas. Há cristãos assim,
sem saber o que fazer com as suas dúvidas. Estão cercados de irmãos e irmãs,
mas sentem-se sozinhos. Dizem que Deus cuida, mas continua o sentimento de
abandono. Afirmam crer em Deus, mas sabem mais acerca da sua ausência do que da
sua presença. Precisamos aprofundar e enraizar nossa fé de maneira que ela
possa ter uma relação real com as nossas experiências de vida, sejam as boas,
sejam as más, sejam as que não nos deixam dormir. Desta forma encurtamos a
longa distância que há entre os lábios e o coração.
Podemos perceber que
Jesus olha para nós com tranquilidade. Ele nos abraça em meio as nossas dúvidas
e não se afasta quando não conseguimos acompanhar o que ele diz e faz. É na
história de um homem confuso e frágil e que apresenta a Jesus o seu filho
possesso de espírito maligno, mesmo sem esconder sua relutância, ele se
aproxima de Jesus na esperança de encontrar seu olhar acolhedor, seu toque
restaurador e sua palavra transformadora. Caminhar nessa cena do texto é o
encontro com a ambiguidade e fragilidade da nossa fé. Mas o texto ensina que as
nossas fraquezas e dúvidas podem ser dissipadas quando a fé se encontra com as
circunstâncias da vida.
O fracasso de uma
vida está na separação da fé com vida prática diária. Há duas expressões que
demonstram a falência da fé nos discípulos. Uma surge nos lábios do pai: “Pedi
aos teus discípulos que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram”
(v.18). E a outra surge nos lábios dos discípulos: “Por que não conseguimos?”
(v.28). Em outras palavras, somos colocados diante de realidades espirituais e
não espirituais para saber até onde vai a nossa fé. Os discípulos de Jesus
agiram diante dos fatos como se tivessem fé, mas sem revelá-la. No entanto, eu
prefiro estar ao lado desse pai frágil e que já não sabe o que fazer com seu filho.
E, então, de mãos vazias apresenta-o a Jesus. Eu lhe convido a assim como este
homem dizer: “Eu creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade”.
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